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Sem Nome Ainda

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Seis...


       Ela sonhava que estava caindo de um prédio todo espelhado. Via seu próprio reflexo, até olhar para abaixo de si. Um buraco negro abriu sob seus pés, e ela se debateu na cama. Acordou num susto.

       O quarto estava todo iluminado. Esquecera-se de fechar as cortinas. Seus olhos coçavam, ela os esfregou junto com seus cabelos emaranhados. Que merda, estava vestida ainda e não era com a camisola de sempre. Levantou-se preguiçosamente da cama de casal. De pé, tombou para o lado, esbarrando-se numa cadeira. Bom, para estar tonta assim, provavelmente bebeu ontem... Mas como o efeito ainda não passou? Idiota! Devia ser pelo sono, pois havia dormido pouco.

       Mas pensando melhor... Ela não se lembrava de muita coisa da noite passada. O que significava que havia bebido. E pelo estado em que o quarto estava, havia bebido muito. Ainda assim, ela sozinha não poderia ter feito todo aquele estrago.

       Andando com dificuldade, arrancou o vestido curto que usava, tirando-o com os braços passando pela cabeça. Ficou somente de sutiã e calcinha, da cor preta. Deu uma olhadinha no banheiro. Alguém vomitou no vaso, pelo cheiro azedo que pairava por ali. Saiu imediatamente do quarto, entrando na sala de estar. Tudo revirado, obviamente. O cheiro de queimado lhe preocupou. O som de um telefone tocando lhe incomodava.

– Nando, você está aí? – Ela falou roucamente, dando um nó nos cabelos com a intenção de amarrá-los. Alguns fios ainda ficaram soltos, e os escondeu atrás das orelhas. A sala estava uma bagunça, dava preguiça só de olhar. Pensava seriamente em voltar para a cama, pois não iria arrumar aquilo tudo sozinha, seria um absurdo.

       As janelas estão abertas, mas o cheiro de queimado ainda persiste. Havia resto de comida espalhada pelo balcão que separava a sala da cozinha. Garrafas e copos também compunham o ambiente. O telefone parou de tocar. Um som estranho partiu do sofá, que estava com uma montanha de copos de plástico coloridos por cima.

– Nando? – Ela aproximou-se, um pouco desconfiada.

–  Humm... –  Ouviu-se um grunhido baixo por ali. Ela tirou alguns copos descartáveis de cima de um rapaz que estava deitado no sofá. Ele estava sem camisa, deitado com a barriga para baixo.

– Consegue se levantar? – A outra pergunta, bocejando. Ele se levanta aos poucos, e o lixo resultante da festa se amontoou pelo chão.

– Estou um caco... Ontem foi de arrasar! – Ele explodiu, abraçando-a pela cintura. Esta o empurrou, enojada.

– Você está com um cheiro horrível! Primeiro tome um banho, depois fale comigo. – Ela disse, afastando-se dele e se esbarrando nos móveis ao mesmo tempo.

– Qual foi, Agatha? Vai dizer que ainda está chateada? – Fernando olha ao redor com cara feia.

– Porque estaria? De você ter dado uma festa sem me consultar e ainda por cima ficar com a Cíntia na minha frente? Realmente, não tem porque eu ficar assim! –  Ela ironiza, pegando os pratos sujos do balcão e os colocando dentro da pia. Um dos pratos escorregou e caiu ao chão, se espatifando em vários pedaços, mas ela ainda sim continuou com a arrumação. O telefone voltou a tocar.

– Poxa, você nunca ligou pra isso! E você não tem moral pra falar de mim, mocinha! – Ele reuniu os copos de vidro e os colocou sob o balcão, indo até uns dos armários e tirando de lá duas sacolas plásticas. – Quer saber? Todo mundo se divertiu ontem, inclusive você!

– Quer fazer o favor de parar de gritar? – Agatha grita nervosamente para ele, arrancando um dos sacos plásticos de sua mão e pondo-se a catar os copos descartáveis espalhados pelo chão da sala. O telefone ainda tocava.

– Você que começou a gritar aqui! Porra, atenda logo esse telefone! – Ele largou os sacos plásticos no balcão e entrou num dos quartos.

– Atenda você, seu idiota! Volte aqui! Não vou arrumar esse pardieiro sozinha! – Com raiva, ela chuta um dos lados do sofá e atende ao telefone.

– Alô? – Ela senta no braço do sofá. – Sim, Felícia. Você esteve aqui ontem, né? Não me lembro de muita coisa. Como? Não entendi. Hã?! – Ela se levanta num susto, deixando a base do telefone cair ao chão. Ela se adianta para pegá-lo – Que horas são agora?! – Ela solta um grito e desliga o telefone com força, correndo pela casa.




Cinco...


       Gritos e batidas fortes na porta. Uma música alta abafa esses últimos sons.
– Rebecca! É a última vez que aviso! Abaixe esse volume agora mesmo! – A mulher bate na porta pela última vez, e saí enfurecida pelo corredor.

       Dentro do quarto reinava a escuridão. Rebecca ouvia Indie num volume alto, mas não tanto como gostaria. Eram 07:47 da manhã, planejava ficar por ali até à noite. Ou até que todos saíssem de casa. Daqui a pouco sua mãe sairia para trabalhar. E provavelmente seu affair também sairia, só que para vadiar. Isso que dava arranjar um novinho... Se bem que ele é uma delícia.

       A festa ontem foi uma bosta. A única coisa boa que valeu a pena foi a bebedeira. Deu até para levar umas sobras para casa.

       Deitada sob os pés da cama, ela remexeu por de trás do travesseiro e tirou uma pequena embalagem de chicletes, do mais refrescante que tinha guardado na dispensa. Uma pastilha era pequena demais, então pegou duas. Mastigando lentamente, sua mente lhe trouxe a imagem de quem mais odiava no momento: Matheus. Ele ainda não deu sinal de vida. O que sentia naquele momento era uma mistura de ódio e ansiedade por alguma mensagem dele em seu celular. Há meia hora ela verificou e o rapaz não estava online na internet. Antes que começasse a xingá-lo em voz alta, a garota aumentou o volume para a entrada da próxima faixa do CD.

       “Adoro seus cabelos...”  Era o que ele lhe dizia. Esforço-se para não chorar, mas não conseguiu evitar que uma lágrima escorresse de sua face. Limpou o rosto com raiva.
As malas já estavam prontas. Não sabia o que faria depois da viagem. Mas de uma coisa ela tinha certeza: não voltaria para casa. Com o término da faculdade, não teria mais o que cumprir. Sua mãe não poderia lhe cobrar mais nada. Nem Matheus.

       Passou a madrugada inteira selecionando o que levaria nas malas. Não levaria muita bagagem para não levantar suspeitas. Muita coisa do qual gostava deixaria para trás. Mas uma coisa não abria mão: seu álbum de fotos personalizado, que ela mesma tinha confeccionado. Havia folhas em branco para as fotografias da viagem.

       Só revelaria as fotos que tirou da festa de ontem nos próximos dias. Não estava com saco para rever o que aprontou...

       Até aquele momento, só havia a luz do visor do aparelho de som iluminando precariamente o quarto. Mas ao virar seu rosto em direção ao grande espelho ao lado da cama, Rebecca avistou a luz piscante de seu celular. Com o controle remoto, diminuiu o volume da música e se esticou para pegar o aparelho. Assim que ela o tocou, este parou de tocar, indicando na tela que duas chamadas não foram atendidas. Ela ativou a função para que retornasse a ligação.

– Fala, Felicia! Sim, estou em casa. Em meia hora chego aí. Beleza, tchau! --- Terminada a ligação, Rebecca jogou o telefone na cama e ligou o interruptor do abajur. Abriu uma das gavetas da cômoda e tirou de lá uma tesoura de costura. Posicionou-se em frente ao espelho. À medida que cortava suas longas madeixas, uma por uma, lágrimas de ódio escorriam de seus olhos.




Quatro... Três...


       Ludmila estava morrendo de fome. Olhou para o interior da geladeira como se estivesse resolvendo um cálculo matemático. Nada lhe agrada. Talvez tivesse algo mais interessante no apartamento vizinho. Pensando por outro lado, era até bom que não tivesse feito supermercado, pois iria viajar. O lado ruim é que teria que contar com a boa vontade da mãe de Theo para que cuidasse de Alonso, seu gatinho. Ninguém curtia o nome que dera ao seu mascote. Mas ele era seu, então daria o nome que quisesse.

       Fechou a porta da geladeira e se dirigiu à sala. Alonso passava suas unhas numa das malas ao lado da poltrona.

– Alonso! Não faça isso! – Ela o carregou e colocou na poltrona. – Eu deveria ter levado você para cortar as unhas. Só peço que tenha piedade com os móveis de dona Alzira!

       Ludmila massageou a cabeça do gatinho de tom alaranjado e em seguida, andou até o espelho do hall de entrada. Talvez estivesse exagerado um pouquinho na hora de se arrumar para a viagem. Deslizou as mãos em sua própria cintura. O casaquinho que usava disfarçava um pouco os quilos que possuía, além de deixá-la com um ar mais elegante. Mas alguma coisa lhe dizia que estava parecendo que ia trabalhar e não viajar, como gostaria. Ela havia escolhido esse conjunto faz uma semana, não iria perder mais tempo escolhendo outra roupa. Até porque adorava exibir suas pernas bastante delineadas. Não se achava gorda, mas sim, gostosa.

       Abrindo a porta, ela posicionou as malas no corredor, fazendo a contagem destas para certificar-se que não deixou nada para trás. Um pouco ofegante após carregar cada mala, ela deu duas batidas discretas na porta do seu vizinho da frente.  Num instante, a porta se abriu e uma senhora vestida com uma camisola larga atendeu:

– Bom dia, Ludmila! Já de pé? Que disposição, menina! Aceita uma xícara de café? Acabei de fazer agorinha... – Convida esta, entusiasmada.

– Não, Dona Alzira. Já tomei meu café da manhã, obrigada. – A outra respondeu prontamente, mas a senhora continuava a tagarelar. – Theo está acordado? Vim me despedir.

– Se despedir? Como assim? Vai embora? – A velha espantou-se. Nisso, passos aproximaram-se das duas.

– Eu também gostaria de saber. – Um rapaz apareceu pelo corredor, postando-se ao lado de Ludmila. Ele era franzino e usava óculos. Segurava uma sacola plástica, de onde vinha um cheiro agradável de pão quentinho da padaria. Ludmila sorriu, e com a mão arrumou de forma delicada a franja de seu namorado. Este dá uma olhada para dona Alzira, que sai impaciente do local, deixando-os sozinhos.

– Eu te falei, amor... Lembra aquela viagem que iria fazer depois da formatura? –  Ludmila respondeu, um pouco embaraçada.

– Ludy! Vou passar as férias sozinho aqui? E ainda por cima com minha mãe? – Theodoro respondeu, deixando escapar um leve rubor em suas bochechas.

– Amor, vai ser por pouco tempo! Você vai ver, não vou ficar fora tanto tempo assim. Nós já conversamos sobre isso. – Ludmila o abraçou e dava pequenos beijos em sua face, enquanto falava. Este a ouvia bastante aborrecido, com os olhos fechados.

– Sempre que eu peço alguma coisa, você sempre arranja algum bom argumento pra me fazer dizer sim. – Theodoro fala, ainda sem abrir os olhos.

– É porque meus beijos finalizam muito bem meus argumentos! Não precisa ficar chateado... Vamos, olhe pra mim! – Ela segura o rosto de Theo com as duas mãos, em seguida assopra sua boca. Sem nenhuma resposta, ela se afasta e toma a sacola de suas mãos. Ela pega um naco de pão e dá uma pequena mordida. O rapaz a olha de forma suplicante. Um celular toca.

– Segura aqui! – Ela devolve o pacote para seu namorado e abre sua bolsa de couro a tiracolo.

– Pronto! Ludy falando! – Ela atende ao celular. – Oi, querida! Já estou prontíssima. Devo estar chegando aí em 15 minutos. – O rosto de Theodoro fica sombrio, e ele entra em seu apartamento, fechando a porta atrás de si. Ludmila começa a gaguejar ao telefone. Suspirando, ela fala:

– Felícia, terei que desligar. Até daqui a pouco. – Ela desliga o aparelho e o guarda na bolsa. De pé, diante do apartamento de seu namorado, começou a analisar a situação. Morde levemente o lábio inferior e em seguida suspira.

– Ok! Você venceu...  Tem dez minutos para arrumar sua mala! – Ela fala, dando-se por vencida. A porta à sua frente abre de supetão e Theodoro a abraça com força, lhe enchendo de beijos. Ela ri de forma histérica e os dois caem no chão por conta do amor.
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Nesses últimos tempos, andei escrevendo um rascunho de uma história, me baseando num sonho louco que tive uma vez (a parte louca do sonho só vai aparecer mais tarde, caso eu continue com a história...) Por enquanto só deu pra escever isso ^^)

amplexos,

Babu L.


PS: Tenham piedade com os erros de gramática ok? ^^'
© 2013 - 2024 qbabu
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lacesnflowers's avatar
Que legal! Estou rindo por causa da parte final... Adorei! 
P.S. Não percebi nenhum erro ortográfico. O fato da história ser maravilhosa ofuscou qualquer erro que possa ter.