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O Segredo da Chuva - Oitava Parte

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         Levantei-me do sofá decidido. O medo não fazia mais parte de mim (pelo menos, não agora). Tinha que agir em silencio; iria lá somente para verificar, só isso. Estava até liberado para dormir aqui na sala mesmo, se eu quisesse. Mas eu tinha que me certificar que aquilo tudo não aconteceu. Era melhor pra mim. Era o melhor para a minha família.

         Podia ter sido alguém que invadiu a casa, e como estava escuro, não pude ver quem me golpeou.

         Mas podia ser outra coisa também.

         Subo as escadas lentamente, sem acender uma luz sequer. Isso contribuía pra algo vir surgindo novamente, mas eu me proibi de sentir medo naquela situação. Posicionei-me em frente ao meu quarto, e para minha surpresa, a porta estava entreaberta, como hoje mais cedo. Somente uma fresta. Aproximei-me para espiar, e então a vi.

         Ela estava próxima às portas de vidro, que estavam abertas. O vento balançava as cortinas brancas, e seus cabelos também. O quarto, a esta hora da noite, tomara um tom azulado, devido à luz da lua. Isso a fazia mais branca. Seu cabelo era claro, parecia avermelhado. Usava um vestido também. Ela olhava para o céu, eu acho.

         Era uma garota, e ela estava realmente ali. Mas de alguma forma, sua imagem me parecia nublada, não sei como explicar.

         As cortinas indicavam agora que o vento havia ficado um pouco mais forte, então senti o cheiro de terra molhada. O barulho da chuva chegou, e a garota virou seu rosto repentinamente para minha direção. Seu olhar sério me atingiu e fui novamente sugado para o interior do quarto. Não sei como não gritei.

         Mas, olhando mais de perto agora, poderia ter motivos suficientes para gritar. Ela não era real. Ou era, tanto faz. Sua imagem era vazada, eu podia ver o outro lado, no caso, a cama. Vendo o quarto agora, percebi que ele não estava mais bagunçado, tudo estava na mais perfeita ordem.

         A garota me olhava seriamente, mas eu podia jurar que não tinha bons pensamentos ao meu respeito. Ela levantou sua mão direita e no mesmo instante, me senti sufocado. Ali, no chão, não conseguia entender porque ela estava... Enforcando-me. Senti como se suas mãos estivessem ao redor do meu pescoço. Ela concentrou seu olhar em mim.

– Ver para crer. – Ela enfim, falou. Meu pescoço fora mais apertado, eu me contorcia no chão. Minhas mãos procuravam em vão tirar o que me sufocava, mas não havia o que tirar. Eu estava praticamente ajoelhado diante dela. Esta, me vendo agonizar, pendeu a cabeça para o lado, parecia fingir pena. Mas estava apenas assistindo. E continuou:

– Por que só ver, se você pode sentir?  – Em seguida, algo me suspendeu um pouco mais para cima; já estava ficando tonto.

– Por favor... – Implorei.

– Este quarto é meu, você é o intruso. Para o seu bem, que não haja a terceira vez.

         Assim que ela proferiu essas palavras, fez um gesto com a mão que mantinha em minha direção, o que me fez ser lançado para fora do quarto. Praticamente fiz um strike com o corrimão das escadas. Bati tão forte, que segundos depois, apaguei. A porta do quarto foi se fechando aos poucos, restando somente a escuridão para mim.


         Acordei de manhã cedo, sentindo um cutucão na perna esquerda. Muito dolorido, olhei para o lado e vi Stefany. Ela parecia estar pensando: "O que este doido está fazendo, dormindo aqui, no meio do corredor?"

– Me deixa em paz... – Foi a única coisa que consegui dizer.

– O que você está fazendo aí? Virou o mascote da família, é? – Ela disse, com as duas mãos na cintura. Levantei-me, ignorando ela totalmente. Incrível como ainda consegui ficar de pé. Na verdade, um pouco curvado por conta da dor.

– Vou falar pra mamãe que você anda "sonambulando" por aí! – Ela disse, voltando para o seu quarto.

– Faça o que você quiser, só cale a boca... – Falei com minha nova voz de grogue. Sentia-me muito mal, eu não tinha dormido, mas sim, apagado. Fui até a porta do meu quarto e quando toquei na maçaneta, lembrei-me da noite anterior.

"...que não haja a terceira vez."



         Desde aquela noite, eu tinha virado praticamente um zumbi. Que dizer, eu não pensava em outra coisa a não ser no que havia ocorrido. Na manhã seguinte, fui para o colégio, mas não me concentrei em nada. O medo e a curiosidade se confundiam dentro de mim.
         
         Revi Carina no colégio. Por sinal, sentamos juntos na sala. E reconheci também outro amigo de infância: Giovani. Ele agora é mais alto do que eu. Depois do intervalo, sentou-se perto de nós durante a aula.

         Quando não estava em casa, eu me sentia bem mais tranquilo. Mas não deixava de pensar como, ou o que eu faria, quando estivesse em casa. Eu praticamente não ia mais ao meu quarto; passei a usar o banheiro de outro, que estava vazio. Até pensei em passar a dormir neste, mas minha mãe vivia falando que planejava fazer algo por ali. Quando ela me viu, dei como desculpa que me sentia desconfortável em compartilhar o mesmo banheiro que stefany. Ufa.

         E nas horas em que eu entrava e saia correndo do meu quarto, quando precisava pegar algo, alguma roupa? Chamar de loucura é pouco.

         Já se passaram três dias nessa agonia. E as noites no sofá da sala me renderam vários pesadelos.


         Hoje acordei meio nervoso. Porque depois da escola, Giovani ficou de passar a tarde aqui em casa, para fazermos uma atividade em dupla. E obviamente, faríamos essa atividade no meu quarto. Que desculpa eu daria agora? Hein?!

         Ontem eu tentei conversar sobre isso com minha mãe. Mas ficou somente no "tentar", na hora  gaguejei muito e inventei outra coisa, mudei de assunto. O que ela iria pensar? Que eu não estava batendo bem das idéias, é claro.

         Depois que chegamos da escola, eu e Giovani fomos almoçar. Era ele quem conversava mais, eu só respondia às vezes. Minha cabeça tentava maquinar alguma forma de evitar o pior. O aviso foi bem claro pra mim naquela noite.

         Ao terminar o almoço, pegamos nossas mochilas e subimos para o meu quarto. A porta estava fechada, como sempre. Abri, e o convidei para entrar.

– Cara, seu quarto é enorme! Que massa! – Giovani exclamou, jogando sua mochila na minha cama – Tem até uma varanda! – Sorriu, abrindo as portas de vidro.

– É, mas não ficaremos aqui por muito tempo. O que é bom, dura pouco. – Falei, desanimado.

– Sério? Por quê? Mal chegaram... – Perguntou, fazendo companhia ao meu desânimo.

– Viemos com a intenção de ajeitar a casa, fazer algumas reformas. Minha mãe disse que vamos vender, mas acho que viemos mesmo pra tirar uma lasquinha, antes de passarmos essa maravilha pra outra pessoa.

– Que pena! Ah, seu eu tivesse money! – Ele disse, se deixando cair sob a cama.

– É, "se" você tivesse! Mas não tem, pois é um pé-rapado, isso sim! – Rimos. Desarrumei seu cabelo com uma das mãos, e sentei de frente para o computador.
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Demorei, mas postei =]

boa leitura,

amplexos


*Algum erro gramatical, me avisem ^^


LINKS:

Primeira Parte (leia a história desde o início, pra entender melhor né) -> [link]

Sétima Parte -> [link]

Oitava Parte -> Você está aqui

Nona Parte -> [link]




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Comments11
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lacesnflowers's avatar
Aaaaahhhhh meu Deus eu quero a nona parteeeee!!!!
Ah, desculpa, me empolguei. Faz tempos que eu não vinha aqui, então acabei lendo da quinta até a oitava, direto.
Essa história é muito misteriosa!!! Caramba, agora to ansiosa pela próx. parte!